terça-feira, 16 de março de 2010

Treta entre Brasil e EUA

Tentarei escrever da forma mais sensata possível, mas perdoem se por vezes algum delírio ufanista invadir este texto. Mas em se tratando deste assunto confesso que é empresa difícil para mim não ter pelo menos um sorriso no canto da boca. Estou como uma criança que a muito tempo pedia um brinquedo caro para o pai e o genitor concede o tão sonhado objeto de desejo de ilusão infantil.

Acontece que a peleja entre Brasil e EUA em relação aos subsídios teve decisão esperada na OMC, mas a reação brasileira é que foi surpreendente. O governo trincou os dentes em relação a defesa extemporânea americana em seus produtos agrícolas, em especial ao algodão. O que acontece é que aquela cantilena liberal profetizada por eles, obviamente é seguida pelo resto do mundo de forma servil, entretanto os próprios não querem nem ouvir falar. Faça o que eu digo e deixe que sei o que faço. Então, desde 2002, o Brasil apelou na Organização Mundial do Comércio para que essa subvenção fosse ao menos revista para baixo, tendo resultado positivo para os canarinhos. Como de costume, os americanos que não costumam seguir determinações internacionais, a diplomacia deles é feita no porrete (vide Iraque, quando a ONU proibiu qualquer intervenção e o Presidente Bush deu de ombros), logo não seguiram as recomendações. A organização julgou mais uma vez em relação ao Brasil, concedendo o direito inclusive de retaliação em relação aos produtos americanos. Tudo normal, nada de inédito até agora. O problema é que de fato a retaliação será feita. O mundo vai acabar!

Muitos outros países já tiveram suas pendengas decididas favoravelmente ao interpelante, mas estes sempre desistiam por conta do medo em relação a reação que os norte-americanos poderiam ter, como por exemplo barrar a entrada dos produtos que o país em questão vendesse. O Brasil publicou uma lista de produtos que terão a taxação aumentada, alguns chegando inclusive a um aumento de 100%.

Até o momento os americanos se disseram “decepcionados” com a atitude brasileira, por outro lado nossa diplomacia diz sempre estar aberta à negociação. Por outro lado, essa “decepção” é no mínimo cômica. Do lado do Norte, nada ainda esta claro em relação a resposta, nem se vão diminuir os subsídios ou vão “retaliar a retaliação”. De certo alguns produtos ficarão mais caros, mas isso pode abrir mercado para mercadorias de outros países que podem suprir a ausência de determinadas áreas. Outro ponto positivo dessa decisão é que o Brasil está autorizado inclusive a quebrar patentes, podendo fabricar, dentre outras coisas, remédios e incluí-los na lista dos genéricos. Os filmes enlatados também estão na mesma lista. De forma geral, alguns produtos ficarão mais caros, outros mais baratos por conta da quebra de patentes e outros serão substituídos por de outros países ou mesmo pelos nacionais.

Vejo esse caso como se o Brasil tivesse vencido eles no baseball.

O mais interessante disto tudo foi que nós, como em poucas vezes, não tivemos medo de abandonar a posição subserviente e “ousamos” cantar de galo no nosso próprio terreiro. Com certeza alguns vão dizer que isso foi irresponsabilidade, mas antes que os arautos do atraso se pronunciem, vou lembrar de forma bem clara: O Brasil entrou com este questionamento em 2002 no desgoverno de vocês sabem quem. Mas pouco importa, o interessante é mesmo o fato. Inclusive os americanos devem estar bastante tristes conosco devido a isto e o caso do Irã, que a diplomacia nacional insiste em ouvir as duas partes da questão e não quer fazer um julgamento sumário.

Tudo certo, tudo lindo. Mas não fiquem também tão gabolas. Essa questão ainda pode ter muitos outros desdobramentos. Como por exemplo, o Brasil pode acabar com a retaliação se os EUA se os mesmos aceitarem a entrada da nossa carne e aceitarem assim as avaliações sanitárias já realizadas. Vejo isso também como uma oportunidade do Brasil fazer chantagem para que seja aceito como membro permanente na comissão de segurança da ONU. Não estou julgando que seja errado, na realidade essas são as armas que a democracia oferece, enquanto os americanos apontam mísseis nós ameaçamos de não comprar mais na bodega deles.

Mas não vou encerrar este texto de forma melancólica. Até porque, como deixei a entender anteriormente, fiquei satisfeito com a atitude brasileira. Somente espero que isto não seja mais exceção e vire regra.